Ou os políticos cometem sempre os mesmos erros?
(actualizado às 19:30)
Há já algum tempo que andava com a sensação difusa de já visto (dejá vu) quanto à conjuntura política e económica actual, até que finalmente encontrei este texto.
“Capítulo 1
SOS Europa
Ilha terceira, arquipélago dos Açores, 13 de Dezembro de 1971.
Aí decorre um encontro inesperado entre Georges Pompidou e Richard Nixon. O Presidente de República francesa, depois de ter consultado os seus parceiros europeus, procura, com o seu homólogo americano, uma solução para a crise monetária internacional. Desta entrevista sairão os acordos assinados a 18 de Dezembro no Smithsonian Institute de Washington: a hemorragia persistente do dólar, …, será sancionada por uma desvalorização da divisa americana e por uma revalorização da maior parte das moedas europeias em relação ao ouro.
…
(A Europa) Depois de ter reencontrado o seu poder comercial, graças ao lançamento do Mercado Comum, parecia reconquistar uma supremacia tecnológica.
…
O declínio americano nos planos económico, monetário, tecnológico, militar – com o arrastamento do problema do Vietname – parecia confirmar-se. … Erro trágico, formidável miopia dos europeus, que não sentiram que as realizações da primeira e segunda revoluções industriais e que o futuro se jogava no infinitamente pequeno, …, com as pulgas electrónicas. …”
(in As Metamorfoses da Europa de Michel Richonnier, publicações D. Quixote, Lisboa 1986)
A situação actual é idêntica. É claro que os nomes das componentes são diferentes: Nixon substitui-se por Bush (com grande desvantagem para o povo americano, segundo alguns, se quiser dar-se ao trabalho de ler), Pompidou dá lugar a Merkel, os encontros bilaterais dão lugar a animados encontros a oito (G8), passa a dizer-se Iraque (acrescido de Afeganistão) em vez de Vietname, Mercado Comum chama-se agora União Europeia, a primeira e segunda revoluções industriais deram lugar à terceira. E o futuro? Onde se joga hoje o futuro? Ainda não adivinharam?
“GOVERNO DOS EUA RECONHECE O PICO PETROLÍFERO
Numa série de posters agora publicados, o Departamento da Energia (DOE) dos EUA reconhece finalmente a realidade do Pico Petrolífero. (…)
O poster referente ao pico – Peak Oil-The Turning Point – menciona as datas previstas por diversos peritos, sem que o DOE endosse qualquer delas.” [procure aqui]

“Para além da era do petróleo
por Michael T. Klare [*]
Em Maio último, num movimento pouco noticiado e que passou quase desapercebido, o Departamento da Energia [dos EUA] efectuou uma viragem fundamental que quase significa uma mudança de época nos EUA e até na história mundial: aproxima-mo-nos do fim da Era do Petróleo e entrámos na Era da Insuficiência. O departamento deixou de falar em “petróleo” nas suas projecções das disponibilidades futuras e passou a falar em “líquidos”. A produção global de “líquidos”, indicou o departamento, ascenderá dos 84 milhões de barris de equivalentes do petróleo (mbep) por dia em 2005 para uns projectados 117,7 mbep em 2030 — o que mal chega para satisfazer a procura mundial prevista de 117,6 mbep. Para além de sugerir até que grau as companhias petrolíferas cessaram de ser meras fornecedoras de petróleo e passaram a ser fornecedoras de uma grande variedade de produtos líquidos – incluindo combustíveis sintéticos derivados do gás natural, milho, carvão e outras substâncias – esta mudança dá uma pista para algo mais fundamental: entrámos numa nova era de competição energética intensificada e de dependência crescente da utilização da força para proteger fontes de petróleo.” [ler mais]

“BP, CONOCO E AIE TAMBÉM RECONHECEM O PICO
Após o presidente da Total, na semana passada, mais dois presidentes de grandes empresas petrolíferas – BP e CONOCO – vieram agora a público para emitir firmes advertências de que o Pico Petrolífero está a acontecer neste momento.” [procure aqui]
Entretanto, o que faz a Europa? O autismo e a arrogância dos europeus continua igual (senão pior) ao que era em 1971. Os americanos voltam a desvalorizar a sua moeda, exactamente o oposto do que fazem os europeus, e preparam-se para a mudança, dolorosa mas inevitável. A verdadeira estultícia não resulta da falta de conhecimentos, mas da incapacidade de aprender com a experiência.
E cá pelo jardim à beira mar plantado? O que fazem os decisores – para além de aumentarem os impostos para comprarem carros de luxo e arranjar mais verbas para passear, claro – e os divulgadores oficiais da informação do reino?
“PETRÓLEO: OS MÁXIMOS HISTÓRICOS E OS MEDIA
Dia 1 de Novembro o preço do petróleo tornou a atingir novos máximos históricos.
A cotação do WTI ultrapassou os US$96 por barril e a do Brent os US$91/barril.
No entanto, os media portugueses que se proclamam ‘de referência’ evitam cuidadosamente as expressões “Pico Petrolífero”, ou “Peak Oil” ou “Pico de Hubbert”.
A desinformação por omissão continua.
A ignorância da realidade do Pico não permite aos operadores económicos e à sociedade em geral adoptarem medidas que minimizem o grande choque que vem aí.
Portugal está a perder um tempo precioso ao não aproveitar está fase – ainda suave – a fim de preparar-se para o mundo Pós-Pico Petrolífero.
Já deveria estar constituída algo como uma Comissão Executiva Nacional do Pico Petrolífero para avançar com acções no campo do planeamento energético e dos transportes.” [procure aqui]
O treino de avestruz, à portuguesa ps-socretina: se ignorarmos os perigos, então eles não existem. Além disso, a gente agora tem um poço de petróleo brasileiro. Quer dizer, não é bem a gente que tem: é mais a Galp. E também não é um poço: são só 10% de um poço que ainda não se sabe como pode ser explorado. Mas o Sousa está muito confiante e satisfeito; logo, o povo também está. De certezinha!
“Galp descobre um terço do PIB no mar do Brasil
ANA TOMÁS RIBEIRO
A descoberta de petróleo no poço Tupi Sul, ao largo da bacia de Santos, no Brasil, permitirá à Galp, com a sua posição de 10% naquele campo, garantir um terço do consumo português nos próximos 15 a 18 anos, afirmou ao DN o presidente executivo da Galp. Ferreira de Oliveira parte de uma estimativa cautelosa de que as reservas não ultrapassarão os seis mil milhões de barris, o que daria à petrolífera nacional 600 milhões de barris…” [ler mais]
É porreiro, pá! E daí, talvez não…
“… A produção no Brasil só deverá arrancar, na melhor das hipóteses, em 2011, segundo estimativas da Petrobras. Estimativas que outros especialistas do sector contactados pelo DN consideram muito optimista. Até lá, o poço agora descoberto irá exigir investimentos elevados, que serão partilhados entre a petrolífera portuguesa e a sua parceira brasileira, que detém 65% do consórcio. Sobre o montante destes investimentos, Ferreira de Oliveira prefere não falar, para já.” [ler tudo]
“PETROLEO E GOZAÇÃO
Novembro 12th, 2007 by roriz
…
Além disso, nenhum país do mundo conseguiu extrair petróleo a sete mil metros de profundidade e existem dúvidas se os custos para extração são economicamente viáveis. Na coluna Panorama econômico também publicada ontem no Correio da Bahia, é reproduzido o comentário de Caio Carvalhal, analista da Combridge Energy Research Associates: “a pergunta que tem que ser feita não é se dá para chegar lá, mas se dá para chegar lá comercialmente”.” [ler tudo]
Finalmente, é preciso admitir que Portugal – ao contrário da maioria dos outros países da Europa – tem uma similitude patente com os EUA: o nível intelectual do Sousa é idêntico ao do Bush. Contudo, os portugueses têm uma tremenda desvantagem relativamente aos americanos. O Bush não faz e não diz o que lhe apetece, mas apenas o que os seus conselheiros o mandam (e mesmo assim, é o que se sabe!); o Sousa manda os seus correlegionários dizerem tudo o que lhe vem à cabeça – e, o mais espantoso é que eles dizem!
Muitos são os avisos para a mudança do paradigma político e económico. Poucos são, infelizmente, os que ouvem. A bafienta “modernidade” jacobina já não precisa de matar os profetas, porque já “matou” Deus – isto é, obrigou muitos a acreditar que Ele não existe. Os portugueses vão ter oportunidade de meditar sobre estas palavras nas próximas décadas de sacrifício, a tentar recuperar do enorme retrocesso a que se deixaram conduzir. Digo-o com certeza e com tristeza.
“…
VOCÊS SÃO INIMIGOS DO POVO
8. São vocês os inimigos do meu povo: a quem está sem o manto, exigem a veste; a quem vive tranquilo, tratam como se estivesse em guerra; 9. vocês expulsam da felicidade dos seus lares as mulheres do meu povo e tiram aos seus filhos a liberdade que Eu lhes tinha dado para sempre. 10. Vamos! Andem! Porque este não é mais um lugar de repouso. Por um nada, vocês exigem uma hipoteca insuportável. 11. …” (Miqueias 2)
1 – Potsdam
2 – Rinoceronte