Monthly Archives: November 2011

Um conto de Natal grego.

Há lugares no mundo que parecem ter especial capacidade para atrair pessoas e acontecimentos excepcionais.

Era uma vez uma cidadezinha de província chamada Bereia (ou Beroia) situada na Macedónia, no Norte da Grécia, cerca de 70 Km a Oeste da grande urbe portuária de Tessalónica. Nada a distinguiria provavelmente de outras pequenas cidades da região não fosse o caso de vir mencionada no Novo Testamento.
A história, conforme está descrita, conta-se em poucas palavras. Numa das suas viagens apostólicas, Paulo e Silas instalaram-se por algum tempo na grande cidade de Tessalónica para pregar o Evangelho, chegando a atrair à conversão “um grande número de crentes gregos e mulheres de elevada categoria social”. Isto provocou inveja nos judeus de Tessalónica que conjuraram uma agitação na cidade por forma a poderem prender os apóstolos. Mas os seus anfitriões conduzira-nos às escondidas para a cidade de Bereia onde os judeus “tinham sentimentos mais nobres do que os de Tessalónica e acolheram a palavra com maior interesse”.

Bereia chama-se agora Veria (ou Veroia) e continua a ser uma cidadezinha de província com apenas cerca de 50 mil habitantes. Mas a singularidade da sua gente volta a ser notícia. A história é novamente de registo breve mas tem um profundo impacto social.

Aproximadamente dois anos de cortes salariais, despedimentos e aumentos de impostos têm esmagado os padrões de vida numa Grécia estropiada pela dívida e o país enfrenta um desemprego recorde e um quarto ano de recessão em 2012. Ao nível pessoal, isto significa que muitos em Veria não podem pagar pelos serviços básicos como a electricidade, que acaba por ser-lhes cortada.
É aí que o grupo activista “Cidadãos de Veria” entra em cena. O grupo volta a ligar ilegalmente a electriciade às famílias carentes, desafiando directamente o fornecedor dominante no país, a Empresa Pública de Electricidade [a EDP lá do sítio].
“Ao cortar a electricidade, (a empresa) castiga crianças pequenas, pessoas idosas e, em geral, todos aqueles que não podem viver sem ela”, diz o activista Nikos Aslanoglou. “Decidimos que tinhamos que voltar a ligar a electricidade a estas pessoas. Nós não estamos escondidos, toda a gente sabe quem nós somos”. (traduzido daqui)

Posfácio: Hey Mama Life, do álbum From Mighty Oaks de Ray Thomas.


Take the pride from a man
You’re left without a meaning,
Take the wings from a bird, how can it fly?
Give him hope, give him trust and
a little understanding,
Give him back his pride, you’ll be satisfied.

Disse solvabilidade, sr. Silva?

“A banca portuguesa tem um elevado grau solvabilidade, pode ter alguns problemas de liquidez, mas é uma banca segura no que diz respeito à solvabilidade”, afirmou o chefe de Estado…
(Cavaco diz que banca é segura e espera que não lhe sejam criadas dificuldades, 26 Novembro 2011, Lusa/Negócios)

Querem que explique? Então, é assim.

O Ti Canelas precisa de 5 mil euros para manter o negócio da “venda” – pagar despesas correntes e refazer as existências (stocks) – mas só tem 500. O Ti Canelas tem um problema de liquidez, isto é, em linguagem para toda a gente entender, está teso, sem chêta, liso. Mas, dos 500 euros que tem, 400 são dele e só 100 são emprestados. Como a solvabilidade é tanto maior quanto for o valor da razão entre o capital próprio e o capital alheio, pode afirmar-se que o Ti Canelas tem uma excelente solvabilidade (80%). Concluindo à Silva, a “venda” do Ti Canelas é segura… no que respeita à solvabilidade, claro.

Nota: Clique na imagem para aceder a outras doutas afirmações do sr, Silva.

Breve conto da democracia portuguesa e o seu único futuro possível.

Personifique-se a democracia portuguesa como Decia Poresa para poder contar-se a sua história de forma simples.
A Decia Poresa tem agora 37 anos de idade. Mas, sendo adulta, não consegue bastar-se a si mesma, isto é, ser economicamente independente. Tal como acontece a muitas pessoas reais em Portugal. A culpa, diga-se assim, não é sua.
A Decia é filha de um pai chamado Antigo Regime que prosperava quando ela nasceu. Mas a menina Poreza não nasceu muito saudável. Tinha uma grave hipertrofia lateral esquerda. Uma doença cujo difícil tratamento levou a que pai vendesse ao desbarato, no primeiro ano após o seu nascimento, todas as grandes herdades mais afastadas que possuía – Angola, Moçambique, Guiné e outras – mais por não ser capaz de cuidar delas do que por precisar do dinheiro, diga-se. Com o tempo melhorou muito da sua doença mas nunca se curou totalmente.
A Decia teve uma infância e uma primeira juventude um bocado atribuladas e a sua educação foi bastante descurada. Quando tinha apenas 12 anos de idade foi admitida na escola de um clube de gente abastada chamado CEE, logo com direito a bolsa de estudos. No entanto, nunca perdeu o hábito de fazer birras e faltar às suas obrigações, no que foi sendo sempre desculpada por causa da sua primordial doença.
Ao fazer 25 anos, jovem vistosa embora bastante ignorante, convenceu os padrinhos, membros mais velhos do clube que lhe tinha suportado os estudos secundários, a subsidiarem-lhe estudos superiores e, posteriormente, vários estágios profissionais. O que eles fizeram, mas com condições, porque a jovem dava já sinais de ser algo estouvada. Verdade seja dita que lhes era fácil vê-lo, pois a Decia fazia quase tudo o que os outros lhe diziam e nunca pensava pela sua cabeça.
Depois de sair da alçada do seu primeiro tutor, um tal Ramalho, as escolhas sentimentais da Decia nunca foram grande coisa. Valia-lhe que lá ia conseguindo livrar-se das más companhias sem grandes problemas. Até que um dia, estava quase a fazer 30 anos, envolveu-se com um tipo de muitas e grandes promessas que vestia armani e calçava prada, e que descaradamente a abusou e a espoliou completamente.
A Decia está agora muito endividada em resultado principalmente da sua tempestuosa relação anteiror, felizmente já terminada. Está muito revoltada. Mas, como andou sempre a fazer o que outros lhe diziam, não aprendeu a fazer escolhas responsáveis sobre a sua própria existência enquanto teve liberdade.
O que decide então fazer nesta turbulência emocional que a toma cada vez mais? Protestar, recusar-se a cumprir as suas obrigações, como fazia quando era ainda criança e adolescente. Sem perceber que já ninguém liga nenhuma aos seus protestos, nem os seus antigos padrinhos que se encontram a braços com os seus próprios problemas económicos e com os de outras Decias (ou Grecias) como ela.

Será uma greve geral um acto de democracia?

Democracia significa, literalmente, governo do povo. Quem governa manda, não protesta. Quem paga manda, não protesta.
Imagine-se que toda a energia e todo o esforço organizador postos ao serviço desta greve geral tinham sido usados para inundar as Assembleias Legislativas nacional e europeia com propostas legislativas destinadas a mudar as leis que exploram e oprimem os cidadãos.
Mas… é possível fazer-se isso? É! Dá trabalho? Dá, muito. E ainda é preciso ser paciente, persistente, serenamente indómito. É aqui que começa a verdadeira democracia e não nas manifestações de rua.
Quer dizer que não são necessárias manifestações de rua? São, infelizmente. Os instalados, os privilegiados, nunca querem ceder, partilhar, o poder. São eleitos pelo povo mas não servem os interesses de quem os elegeu, antes os seus próprios e de forma muito óbvia.*

*Um dia, perguntaram a um menino de 5 anos que eu conheço desde o berço o que queria ser quando fosse grande. O miúdo respondeu que queria ser governador. A seguir alguém se lembrou de lhe perguntar porquê. Ele respondeu, então, para espanto de todos os presentes (e gáudio de alguns): – Ora, porque o governador governa-se!

A União Europeia está a cair aos bocados (Soapbox Opera).

Facto:
European shares fell on Wednesday to their lowest close in seven-weeks after dismal demand at a German bond auction sparked fresh debt crisis contagion worries

Análise de um gestor de peso nos mercados:
Richard Batty, strategist at Standard Life Investments, part of the Standard Life Group, which administers 196.8 billion pounds of assets, said the weak demand was a surprise.
“It is now getting to the stage where investors are becoming concerned about Germany paying more of the bill for the euro zone.

Análise de Ricardo Arroja sobre o mesmo assunto, no Insurgente:
o banco central alemão, que tem por hábito reter uma parte das suas emissões (que destina às suas próprias reservas), terá decidido, de acordo com a teoria especulativa do FT, ficar com um terço da sua emissão. Agora, porquê e para quê? …

Em suma, o Bundesbank está a preparar-se para o “default” das dívidas periféricas, para o desmembramento da zona euro e até, imagine-se onde isto pode chegar, para a falência do próprio BCE. …

Mais um aviso, claríssimo:

On Wednesday, Greece’s central bank also called on Mr. Samaras and other leaders of the new coalition government to step up the pace of reforms, warning that the country faced a disorderly exit from the euro.

Síntese final (A Sopabox Opera, do álbum Crisis? What Crisis? dos Supertramp):

I hear only what I want to hear
But, I have to believe in something
Have to believe just the one thing
I said, “Father Washington, you’re all mixed up
Collecting sinners in an old tin cup
Well, spare a listen for a restless fool
There’s something missing when I need your rules”

Wait for the Lord (Esperem o Senhor).

Antes de mais, ficai a saber que, nos últimos dias, hão-de vir uns impostores trocistas, que viverão segundo as suas más paixões e, troçando, vos perguntarão: «Em que fica a promessa da sua vinda? Desde que os pais morreram, tudo continua na mesma, como desde o princípio do mundo!»
2ª Pedro 3: 3-4

As pessoas tornar-se-ão egoístas, interesseiras, arrogantes, soberbas, blasfemas, desrespeitadoras dos pais, ingratas, ímpias, sem coração, implacáveis, caluniadoras, descontroladas, desumanas e inimigas do bem, traidoras, insolentes, orgulhosas e mais amigas dos prazeres do que de Deus.
2ª Timóteo 3: 2-4

Itália: novo governo sem políticos.

Roma (AP) — O primeiro-ministro Mário Monti formou na quarta-feira [hoje] um novo governo italiano sem um um único político, a partir das fileiras dos banqueiros, diplomatas e executivos financeiros para criar uma equipa que conduza a Itália para longe do desastre financeiro.

(tradução expedita de um excerto desta notícia da Associated Press, hoje)

A Bélgica, sem governo há 520 dias agora (aprox. 1 ano e meio), tem a sua Economia a crescer mais do que a alemã.

Na actual conjuntura europeia os políticos servem para quê?

My life is in Your hands.

A minha vida está nas Tuas mãos.


Just lift your hands and say:
Levanta apenas as tuas mãos e diz:

With Jesus I can take it,
Com Jesus eu posso suportar,
With him I know I can stand.
Com Ele sei que posso ficar firme.
No matter what may come my way
Não importa o que possa vir-me ao caminho
My life is in Your hands.
A minha vida está nas Tuas mãos.

E esta, hein? – como diria o saudoso Fernando Pessa.

Para quem não entende o “francium”:


Os jornalistas ouviram quando Nicholas Sarkozy chamou mentiroso ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e escreveram-no. Primeiro o “Le Monde”, sem reproduzir as palavras exactas, o “Arrete sur Images”, depois: “Não posso mais vê-lo. É um mentiroso”, disse Sarkozy.
E Obama respondeu: “Pode estar cansado dele, mas eu tenho de lidar com ele todos os dias”.

(Obama e Sarkozy apanhados a dizer mal do primeiro-ministro de Israel, 2011-11-09, JN)

Com a paz internacional entregue a estes dois, será caso para nos preocuparmos?

Todos os Impérios sempre tiveram uma ‘moeda única’.

Há 1800 anos atrás (211 a.C.) uma outra República criava uma outra moeda única que viria a ser, alguns anos mais tarde, “a principal moeda em circulação no Império” que essa República havia entretanto dominado.

Ontem, dia 9 de Novembro de 2011, a sr.ª Kasner – que usa indevidamente o apelido Merkel – deixou claro que se vê a si mesma como a líder de um Novo Império do Ocidente (Ein Neues Westreich, der vierte Deutsche Reich) – se alguma dúvida existisse ainda:

A chanceler alemã, Angela Merkel, considerou hoje que as fronteiras entre a política doméstica e europeia já perderam a definição na zona euro, (…)
“Doméstico é tudo o que está dentro da zona da moeda única. A Grécia já não pode decidir sozinha se quer ou não realizar um referendo”, (…)
(“Moeda única acabou com políticas domésticas”, por Lusa, 09/11/2011, DN Economia)

Isto, somente vinte e dois anos após poder passar-se, enfim, livremente por esta porta:

E este, ali em baixo, é o mapa do Império nas suas fronteiras actuais. Mas, ao contrário de todos os Impérios anteriores, a República imperialista que domina não combateu uma única batalha e não perdeu um único soldado na conquista: de modo incrível, todos os dominados se entregaram de livre vontade… à força do seu poderio económico.

Estamos no ano 50 2011 antes depois de Cristo. Toda a Gália Europa está ocupada pelos romanos germanos… Toda? Não! Uma aldeia confederação habitada por irredutíveis gauleses helvécios resiste ainda e sempre ao invasor. (adaptação do texto introdutório em todos os livros de BD da série Astérix o Gaulês)

E depois ainda dizem que os saloios são os suíços. Pois, pois…

Leitura complementar: Iniciativa Europeia de Cidadania: O instrumento para democratizar a União Europeia autoritária.

O que impede Portugal de sair da crise económica? (4)

A importância da estabilidade.

A Economia é a base da sociedade. Quando a Economia é estável a sociedade progride. A Economia ideal  combina o espiritual e o material, e as melhores mercadorias para negociar são a sinceridade e a amizade.
Ueshiba Morihei, A Arte da Paz (da tradução inglesa por John Stevens)