O preço do petróleo mantém-se em níveis máximos de sete meses, ainda impulsionado pela queda inesperada de reservas nos EUA e também pela revisão em alta da perspectiva de consumo. …
(Petróleo mantém máximos com queda de stocks e maior procura, 11-06-2009, Portugal Diário)
Tal como aconteceu o ano passado, os preços do petróleo crescem com a aproximação do terceiro trimestre, em pleno Verão. Esta é uma situação anómala, a não ser que se estejam a comprar reservas com muito maior antecedência do que em anos passados – coisa difícil de acreditar dado que a capacidade de armazenamento/refinagem não terá aumentado. A justificação oficial para esta ocorrência em 2008 era a crise financeira, que do imobiliário já tinha alastrado aos accionistas e obrigacionistas e estaria a “empurrar” muito do investimento para este mercado, provocando a sua inflação. Bom! Então e agora? A desculpa oficial parece ser a oposta, a da (muito propalada, pouco fundamentada) recuperação económica, que estará a impulsionar o consumo. Parece que tudo pode ser verdade: qualquer coisa e o seu contrário.
As previsões em Economia valem o que valem: são meros exercícios de aplicação de um modelo anterior a uma situação nova. O problema é que desta vez não existe nenhum modelo anterior que se adapte ao figurino.

É pacifico (pelo menos entre académicos e outra gente pensante) que se experimenta actualmente um paradoxo macro económico. Uns dizem-no paradoxo da produtividade, outros paradoxo da abundância e outros dão-lhe outras designações. O que importa reter é que existe um paradoxo novo, que ultrapassa os paradoxos clássicos “da produtividade“, “da abundância“, “da poupança” (ou de thrift, segundo Keynes) ou “de Jevon“.
O que acontece, dito de forma simples, é a demonstrada incapacidade da Economia global manter um crescimento estável (solid growth) com base nos recursos, nas tecnologias (Know how) e nos modelos de desenvolvimento actualmente existentes.
Na prática, isto pode significar uma mundialização de uma recessão persistente do tipo daquela que tem afectado a Economia japonesa quase ininterruptamente desde 1991. Uma “recessão de crescimento“, para usar a terminologia dos economistas.
Se nenhuma das premissas acima descritas se alterar, algumas consequências a curto/médio prazo não são difíceis de prever – e aqui serão mencionadas apenas as económicas, não as sociais:
1. Continuação do aumento do preço do petróleo, que desta vez não voltará a baixar (pelo menos de forma tão significativa);
2. Incapacidade para recuperar o anterior nível de trocas comerciais internacionais (comércio mundial);
3. Diminuição da produção global e consequente aumento do desemprego;
4. Excesso de massa monetária e inflação galopante na medida em que a procura aumentar e a oferta diminuir, especialmente no que toca a bens alimentares e outros de primeira necessidade.
5. Regresso a economias de troca, proximidade e sobrevivência, que originará forte redução do volume das receitas fiscais (que já é patente) e aumento da dívida pública, seguido do inevitável aumento de impostos (já aconteceu em Espanha) e da consequente diminuição do investimento privado.
Para que possa verificar-se no futuro a validade da primeira destas previsões, respeitante ao preço do petróleo bruto, coloca-se aqui na barra lateral a partir de hoje o gráfico contínuo da variação dos preços do petróleo da oil-price.net. Arrisca-se mesmo um maior grau de pormenor na previsão, afirmando que até ao final deste ano os preços do petróleo bruto serão iguais ou superiores aos do pico ocorrido no mês de Julho de 2008, de 135,25€ por barril de Brent.
Alea jacta est.