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Conversas de burros (e outras a propósito das legislativas 2015).

burros com legenda 1

Caro concidadão,
Há 40 anos que PSD e PS se alternam no governo de Portugal.
O bipartidarismo é uma doença da democracia que favorece a forma de clientelismo político própria das democracias partidárias, o clientelismo partidário.
Até este momento, só os “clientes” de cada um destes partidos (militantes, seus familiares, amigos e beneficiários diversos) têm garantido a cada um deles entre 25 e 30 por cento dos votos expressos em (quase) todas a eleições legislativas.
Portanto, se você não faz parte desta clientela partidária, desta vez experimente votar num dos outros partidos, através das listas concorrentes às legislativas 2015 (especialmente num daqueles que nunca conseguiram eleger qualquer representante para a Assembleia da República).
Há para todos os gostos, da direita à esquerda, passando pelos corporativistas, pelos assim-assim, e pelos que se dizem mais ao centro que os do centro. Ora veja:
(Segue-se uma isentíssima lista por ordem alfabética com links para os sítios respectivos na internet.)

AGIR – PTP e MAS
Bloco de Esquerda (B.E.)
Coligação Democrática Unitária (CDU) – PCP, PEV
Juntos pelo Povo (JPP)
LIVRE/Tempo de Avançar (L/TDA); apoiado pelo POUS
Nós, Cidadãos! (NC)
Partido Cidadania e Democracia Cristã (PPV/CDC)
Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses (PCTP/MRPP)
Partido da Terra (MPT)
Partido Democrático Republicano (PDR)
Partido Nacional Renovador (PNR)
Partido Popular Monárquico (PPM)
Partido Unido dos Reformados e Pensionistas (PURP)
PESSOAS-ANIMAIS-NATUREZA (PAN)

Mais informação sobre as Legislativas 2015 (este blogue é ou não é um verdadeiro serviço público?):
Saiba como votar nas próximas eleições legislativas e, se quiser, informe-se mais detalhadamente na página da Comissão Nacional de Eleições. Até pode ver, antecipadamente, o boletim de voto que a sua Mesa de voto lhe vai dar no próximo dia 4 de Outubro para poder votar no seu Círculo Eleitoral.

A morte assistida do Estado Social em Portugal.

“Alguém que está desempregado algum problema deve ter, senão teria conservado o seu emprego” (Pedro Passos Coelho, actual primeiro-ministro português, dixit)

Em números redondos há cerca de 1 milhão de pessoas com “algum problema” em Portugal. Para além dos que não conseguem conservar “o seu emprego” há ainda aqueles, ainda mais problemáticos, que nunca tiveram “o seu emprego”. Estes malandros todos, não só não descontam para a Segurança Social, como ainda por cima alguns deles recebem um subsídio da dita. Como é que se consegue governar um povo assim?

Os descontos dos funcionOrcamento inchado - Portugal falidoários públicos cobrem apenas 13,7% da despesa com as pensões pagas pela Caixa Geral de Aposentações (CGA). … o Estado, através do Orçamento do Estado e das contribuições de entidades públicas, injetou na CGA mais de 6,5 mil milhões de euros.

A pressão financeira é também elevada na Segurança Social, com as necessidades de financiamento a ultrapassarem os 956 milhões de euros. … O relatório realça ainda que o número de trabalhadores integrados no mercado de trabalho após um estágio profissional do IEFP caiu de 42,4%, em 2013, para 33,3%, no ano passado. …
Descontos só pagam 13,7% das pensões, 21.07.2015, por António Sérgio Azenha, no C.M.

Para além destes, há também mais 300 mil fugitivos que foram arranjar emprego para outros países. E não é que esses insolentes têm o descaramento de descontar para a Segurança Social desses países onde trabalham! O governo diz-lhes que emigrem e eles vão logo fazer descontos para a Segurança Social de outros países. Caramba! Como é que se consegue governar um país assim?

Imagem do modelo do novo serviço nacional de saúde português.

Satiric illustration by John Holcroft“… Depois de analisar os dados registados entre 2002 e 2013, o INE diz que há menos camas de internamento nos hospitais públicos e mais nas unidades privadas.
Resulta ainda desta análise a conclusão de que diminuíram também os serviços de urgência básica e de atendimento permanente nos centros de saúde.
…o Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde reafirmou, ainda, a necessidade de ser repensado o modelo de financiamento da saúde pública. …”
Ministério da Saúde desvaloriza dados do INE sobre internamento, 7 ABR 15, TSF

Job song (A canção de Job).

My people are destroyed for lack of knowledge: because thou hast rejected knowledge, I will also reject thee, that thou shalt be no priest to me: seeing thou hast forgotten the law of thy God, I will also forget thy children.
Hosea 4:6

O meu povo perde-se por falta de conhecimento; porque rejeitaste a instrução, excluir-te-ei do meu sacerdócio. Já que esqueceste a Lei do teu Deus, também Eu me esquecerei dos teus filhos.
Oseias 4:6

Apocalypse Soon

A importância do seu voto (para os parasitas).

(You can read this post in English down bellow.)

“Os partidos políticos estão isentos de IRC, IVA, IMI, Imposto de Selo, Imposto de Doações e Sucessões, estão isentos de Imposto sobre Património, estão isentos do Imposto Automóvel, estão isentos de Imposto Municipal sobre Transmissões de Imóveis, entre outros. Estão ainda isentos do pagamento de taxas de justiça e de custas judiciais.

Cada voto rende aos partidos políticos, por ano, 3 euros e 10 cêntimos.

O partido vencedor nas últimas eleições, em termos de euros (€), foi o PSD, que entre as últimas eleições legislativas e as próximas irá receber 38 milhões de euros (…) seguido do PS que vai receber mais de 28 milhões, Seguido depois pelo CDS-PP que irá receber 13 milhões.

Além disso, os partidos parlamentares receberam também mais de 8,3 milhões de euros para as despesas da última campanha eleitoral (…) a dividir entre eles de acordo com os resultados obtidos.
Para além desses montantes, cada grupo parlamentar (…) terá direito a uma outra subvenção anual para encargos de assessoria aos deputados, correspondente a quatro vezes e meia o indexante de apoio social, ou seja, cerca de 2 mil euros. Assim, o PSD vai receber anualmente [mais] 203 mil euros, o PS 139 mil euros, o CDS 45 mil, o PCP 26 mil, etc.

Depois o Estado ainda dá 18 milhões e 500 mil euros, que é a verba destinada para financiar as campanhas eleitorais das eleições para a Assembleia da República, Parlamento Europeu, Assembleias Legislativas dos Açores e da Madeira e para a Presidência da República.
Depois ainda há outra verba para as autárquicas…”

The importance of your vote (to the parasites.)

“Political parties [in Portugal] are exempt of all taxes, both national and local. They don’t pay VAT, stamp duty, excise duties, corporate taxes, property taxes, motoring taxes and what so ever (examples using the names of identical taxes in UK and US.)

Each vote profits the political parties in 3 Euros (currency) and 10 cents (aprox. 4 dollars and 25 cents), every year.

The winning party on the last elections, PSD (Social Democrats), will be paid until next elections the amount of 38 million Euros (52 million dollars), followed by PS (Socialists) and CDS (Christian Democrats) that will be paid 28 million and 13 million Euros.

Political parties with parliamentary seats received also more than 8.3 million Euros to spend during the previous electoral campaign (…) to divide among themselves according the each one’s electoral outcomes.
Besides that, each parliamentary group has access to another annual subvention of 2 thousand Euros for accessory expenses of each MP. So, the four larger parties in Parliament, the Social Democrats (PSD), the Socialists (PS) the Christian Democrats (CDS), and the Communists (PCP) will receive annually more 203/ 193/ 45/ 26 thousand Euros, respectively.

Plus, the Portuguese State provides more 18.5 million Euros to support the electoral campaigns for the national parliament, the European parliament, the parliaments of the autonomous regions of Madeira and Azores, and the President of the Republic.
And that is not all. There is another public money stock to pay for the local electoral campaigns…

‘Se capitães de Abril exigem falar o problema é deles…’ Todos ao Carmo!

Os deputados afirmam pela voz da sua presidente que “Se capitães de Abril exigem falar «o problema é deles»“. Isto é assim como que uma dentada na mão que lhes deu de comer.
O primeiro-ministro vem dizer que “não quer “independentes” como deputados na Assembleia da República“. O regime recusa, portanto, reformar-se.
E o ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social declara que muitos desempregados ” perderam RSI porque podiam trabalhar e não quiseram“. Assim, segundo esta criatura, os desempregados são uns masoquistas que preferem passar fome a trabalhar.

Estas são apenas algumas excelentes razões para que todos, mas mesmo todos, os portugueses que se sentem insatisfeitos, mal-tratados, espoliados e violentados por este governo e por esta legislatura subam ao Carmo hoje, 24 de Abril de 2014.
Porque desta vez não vai aparecer um cavaleiro galante montado num Chaimite para subir por eles.

E, não deve ser por acaso que o lugar se chama Carmo. Este nome é uma evocação de um lugar situado na Terra Santa, chamado Monte Carmelo: “trata-se do local onde se deu o duelo espiritual entre o profeta Elias e os profetas de Baal“.

(des)Emprego em Portugal: os números desmentem a demagogia das percentagens.

Um banhinho (frio) de realidade numérica para tirar os “amigos da laranja” do estado de semicatatónica verborreia sobre a “queda” da taxa de desemprego no terceiro trimestre deste ano.

Número de empregados em Portugal (2008-2013)*:

Anos                      Total (milhões)
2008                    5,198
2009                    5,054
2010                    4,978
2011                     4,837
2012                    4,635
2013                    4,553**

Afinal, o que não pára de cair é o número total de empregados.
Ao contrário do número de pensionistas, que não pára de aumentar.

Número de pensionistas em Portugal (2008-2012)***:

Anos                      Total (milhões)
2008                    3,368
2009                    3,423
2010                    3,473
2011                     3,535
2012                     3,585

Não há nada como uma boa série numérica para desmontar uma mistificaçãozinha estatística.

* População empregada: total e a tempo completo e parcial (Pordata)
** Taxa de desemprego cai pela primeira vez em cinco anos (Público)
*** Pensionistas: total, da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações (Pordata)

Presente de Cesar 1Presente de Cesar 2

O Pedro Coelho não passa, afinal, de um ladrão.

Peter rabbit watches the gardener workingEm defesa do hortelão, que se farta de trabalhar para produzir as hortaliças e os legumes… (1)

Quando Beatrix Potter escreveu em 1893 a famosa história de Pedro Coelho não lhe raiaria a fímbria do pensamento que estava simultaneamente a criar uma horrível distopia, a qual viria a tornar-se realidade muitos anos depois num outro jardim “à beira-mar plantado“.

Peter rabbit flopsy bunniesA história é simples e resume-se num ápice. Pedro Coelho (seguramente com a ajuda de um grupo de amigalhaços… do alheio) entra no jardim, aproveitando a distracção do hortelão que se encontrava ocupado a expulsar um bando de ratos que estavam a destruir-lhe tudo, para se empanturrar (e empanturrar os amigalhaços pois, como toda a gente sabe, não há empanturramentos de borla) à custa do que vai roubando.

E, o Pedro Coelho continua a gamar na horta, confiante no final clássico da história, aquele em que ele consegue fugir para se refugiar na casa da mama, digo, mamã. Mas, o Pedro Coelho que se cuide, pois os finais das histórias tendem a ser instáveis, em especial quando há muita gente a querer que sejam alterados. Pode muito bem vir a acontecer ao Pedro Coelho a mesmíssima coisa que a autora do conto refere ter acontecido ao paizinho dele.

(1) e do motorista que os transporta até ao mercado, e do pequeno comerciante que os vende, e do mecânico que repara a camioneta do motorista, e do professor que ensina os filhos deles, e dos aposentados que se fartaram de trabalhar para criar todos estes filhos da pátria, e… em geral, de todos os que trabalharam e trabalham para poderem comer sem roubar.

Colonialismo, neocolonialismo ou colonialismo económico?

O paradigma da relação de Portugal com a Alemanha.

made in germany portuguese cork

“O colonialismo é um exercício de dominação que envolve a subjugação de um povo a outro. Uma das dificuldades em definir colonialismo é que é difícil de o distinguir de imperialismo. …”
(tradução imediata de um excerto da definição constante aqui)

“neocolonialismo – a dominação de um país pequeno ou fraco por um país grande ou forte sem assumir directamente o seu governo.”
(tradução imediata da última definição constante aqui)

“Dito de forma simples, o colonialismo económico é um colonialismo, mas apenas em termos de negócios ou Economia. (…) Tipicamente, os países poderosos investem capital em nações subdesenvolvidas e o retomam com lucro. … Normalmente, tais investimentos pelos países mais ricos têm condições, sendo um dos exemplos mais comuns dessas condições a venda de recursos públicos, como os serviços de abastecimento de águas, a empresas privadas. …”
(tradução imediata de um excerto do texto explicativo constante aqui)

A destruição e a morte nunca trarão bem algum.

Mais pobreza nos AçoresEm terra onde cresce a pobreza incineram-se incineravam-se até há pouco tempo centenas de vitelos todas as semanas. Em nome da “correcção dos mercados“.(*)

A destruição da capacidade produtiva do país continua a mando de Bruxelas. Agora E assim tem sido também nos Açores. Foi exactamente assim que aqui no continente destruíram os olivais e nos obrigaram a importar azeite de baixa qualidade;  destruiram os pomares para nos obrigar a importar fruta desenxabida; destruíram as vinhas e nos obrigaram a importar vinhos mais caros e de qualidade inferior aos nosso; foi assim que destruíram a frota de pesca costeira e nos obrigaram a importar peixe congelado. Se os açorianos forem nesta conversa vão acabar a comprar leite, queijo e carne de vaca aos senhores do império europeu – a Alemanha, a Áustria, a Holanda, …

(*)”Corrigir” os mercados relativamente a um produto de oferta abundante é como chicotear as ondas para as obrigar a mudar de direcção. Os mercados não se corrigem, conquistam-se. Esta gente segue acefalamente os ditames dos senhores do império europeu em vez de lhes seguir o exemplo: manter ou aumentar a produção para inundar e dominar o mercado, vendendo a dumping se for necessário, durante o tempo que for necessário . Como é que se explica a esta gente que os 50 euros que pagam os exportadores de carne por cada vitelo têm mais valor para o seu futuro do que os 75 euros que paga a UE para destruir os animais? Alguns dos mais conceituados analistas económicos são actualmente unânimes quanto à real origem da actual crise financeira dos países do Sul da Europa: o aumento do financiamento da dívida desses países pelo BCE (e a unanimidade acaba aqui), segundo alguns (R. Koo’s Balance Sheet Recession) para que esses países suportassem o aumento das exportações da Alemanha que lhe permitiria a saída da crise (profunda) do princípio dos anos 2000, segundo outros para que as economias super-aquecidas dos países periféricos suportassem a quebra das importações da Alemanha durante esse mesmo período, segundo outros ainda por outras razões mais complexas.

Nota de correcção: Este artigo viu o seu texto alterado poucas horas depois da sua publicação aqui (mantendo-se, ainda assim, o texto anterior com sinal de rasurado) tomando em consideração a correcção feita pelo jornal Público quanto a actualidade desta sua notícia: http://www.publico.pt/economia/noticia/milhares-de-vitelos-com-15-dias-abatidos-nos-acores-a-troco-de-subsidio-da-ue-1611484

Este postal mantém, no entanto, confirmadamente, a sua actualidade no que respeita ao agravar das situações de pobreza no arquipélago açoriano.