a que estão reduzidos os portugueses.
Hoje, 30 de Abril, um familiar foi pagar o IMI à tesouraria da repartição de finanças. Estava abatido e, por isso, acompanhei-o.
No meio da profunda revolta que lhe causa ter que pagar 55 euros por mês ao Estado pelo direito de habitar a sua própria casa, teve hoje, todavia, um fugaz lampejo de alegria redentora.
O pagamento foi efectuado em numerário, sendo a maior parte em notas. No entanto, também entregou 20 euros em moedas de 1 e 2 cêntimos, paciente e diligentemente guardadas ao longo de vários meses.
Como era de esperar, houve uma reacção muito hostil à recepção das moedas, sendo costume os contribuintes (contribuintes?) serem tratados com a maior arrogância naquela particular repartição. Deve ser por pouca sorte dele, uma excepção no meio das inúmeras repartições onde os contribuintes (contribuintes?) são bem tratados…
Como de costume também, os mangas de alpaca que estão lá a esmifrar o indígena colectar o dinheiro tentaram virar o povaréu – hoje era o último dia para pagar, calculem a quantidade de gente que lá estava – contra o pobre pagante.
Mas, espantosamente, inesperadamente, aconteceu exactamente o contrário.
A multidão atirou-se ao funcionário que ameaçava não chamar mais ninguém ao balcão até que os funcionários (todos…) contassem as moedinhas. Diziam as pessoas: “Então já não se pode pagar em dinheiro?” – “Deviam era ter uma máquina para contar as moedas!” – “Qualquer dia só recebem notas de 500!”, e outros ditos menos simpáticos que não são aqui reproduzíveis.
O parente, que estava à espera de ter que suportar a sanha popular, saiu com um sorriso, satisfeito com a sua ínfima compensação pela exploração e pelo trato de vilão que lhe tem sido dado.
O sorriso era-me extensivo, por outras razões. Pela primeira vez de há 4 anos a esta parte vi a mole dos cidadãos a defender o outro cidadão, solidários e sem expressão de egoísmo ou de inveja.
Este singelo episódio, sem valor mediático ou de resistência civil, ainda assim representa um sinal de esperança quanto à capacidade dos portugueses para construírem a cidadania e a verdadeira democracia – sem caudilhos iluminados por magalhânicos visores e faróis de veículos eléctricos de segunda categoria.