Category Archives: ABUSOS DE PODER (E AFINS)

Aprovada a adopção de crianças por pares de homossexuais – o estupro da democracia.

– Num país com mais de 1 milhão de desempregados e mais de 2 milhões pessoas a viverem em estado de extrema pobreza;
– Num país onde as desigualdades sociais e económicas continuam a crescer sem cessar;
– Num país em que grassa a precaridade laboral e campeia a corrupção;
– Num país… (esta lista podia alongar-se muito)

uma das primeiras leis que os deputados da Assembleia da República – acabados de ser eleitos para uma nova legislatura – aprovam, é uma lei que permite a adopção de crianças por pares de homossexuais.

E, chamam a isso uma “vitória da democracia”.

democracy - 2 wolves 1 lamb votingMas não é. É um abuso da democracia.
A democracia é a expressão da vontade da maioria e a maioria, a esmagadora maioria dos portugueses, não mandatou os deputados para aprovarem isto.

Esta é uma lei ‘contra naturam’. Por isso, e sem ser necessário qualquer julgamento de carácter moral, pode afirmar-se que esta é uma lei criminosa (esta é mais uma lei criminosa) contra aqueles membros da sociedade que não podem defender-se, as crianças.

Nota 1: Se quisesse fazer algum julgamento de carácter moral diria apenas que só os cobardes é que maltratam (e matam) os indefesos.

Nota 2: Se não percebem por que razão afirmo que uma acção ‘contra naturam’ é uma acção criminosa, pensem que as mesmas pessoas que fizeram e aprovaram esta lei se afirmam ecologistas e consideram criminosa qualquer acção contra a Natureza. E, são estas mesmas pessoas que fizeram e aprovaram a lei do aborto que consideram criminosas as touradas, as experiências laboratoriais em ratos e a pena de morte para os homicídas – só para dar alguns exemplos da estúpida incoerência.

A ditadura ortográfica em Portugal.

O Ministério da Educação ordenou que sejam penalizados nos exames a realizar em 2015 os alunos que não usem a nova escrita acordizada, arbitrariamente e ilegalmente imposta à administração pública portuguesa pelo governo.
Esta é mais uma das muitas ordens prepotentes do governo nesta matéria.

Veja-se, por exemplo, o caso dos alunos que irão realizar exames de 12.º ano em 2015. A “nova ortografia” (como lhe chama o M.E.) foi imposta no ano lectivo de 2011-12. Os alunos referidos estariam então, na sua maioria, no 9.º ano de escolaridade. No ano em que foi imposta não existiam manuais novos para este nível, pelo que estes alunos só terão tido contacto com a escrita acordística no ano lectivo seguinte, 2012-13, e apenas em alguns (muito poucos) manuais. Isto significa que estes alunos passaram 10 anos de uma escolaridade obrigatória de 12 a escrever em português correcto (pré-acordístico). É impossível que estes alunos consigam usar a “nova ortografia” na escrita. E, se estiverem preocupados em fazê-lo, isso irá prejudicá-los na expressão dos conteúdos no tempo limitado de uma prova de exame.

ditadura ortograficaA imagem de base do cartaz foi apanhada aqui.

Nota: Não foi possível encontrar uma única notícia sobre este assunto, pois os meios de comunicação social em Portugal não são independentes e seguem, na sua maioria, as ordens do poder político e económico.

Os cidadãos acusam o Estado de usurário e extorsionário.

Enquanto há vida há cobrança - Ditados ImpopularesA história começa assim, mas podia começar de outra maneira sem alterar o que lhe subjaz.

… a lei autorizou o Instituto de Mobilidade e Transportes Terrestres – e agora as Finanças – a cobrar multas de 500 por cento a quem não pagasse uma portagem ou scut dentro do prazo, e 1000 por cento a quem não pagar o processo na fase da multa dos 500 por cento. …

Ora, isto configura o crime de Usura descrito no art.º 226º do Código Penal Português*.

Quem, com intenção de alcançar um benefício patrimonial, para si ou para outra pessoa, explorando situação de necessidade, … incapacidade, inépcia, inexperiência … do devedor, ou relação de dependência deste, fizer com que ele se obrigue a conceder … vantagem pecuniária que for, segundo as circunstâncias do caso, manifestamente desproporcionada com a contraprestação é punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias.

No entanto, para cobrar estes valores usurários houve que ir mais longe.

O caso passa entretanto, para as Finanças, onde é elaborado um processo de execução fiscal para saldar a dívida e um processo de contraordenação. … o não pagamento irrisório de 40 ou 50 cêntimos obriga-os a pagar uma multa, que nunca será inferior a 63,25 euros, além de terem de regularizar a dívida com custas e juros de mora. Se não o fizerem, arriscam-se a ver o carro as contas bancárias ou até o salário penhorado”…
O número de ordens de penhora emitidas pela Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) ascendeu a 2,3 milhões nos sete primeiros meses do ano [2014], ultrapassando o total das notificações emitidas pelos serviços do fisco em todo o ano de 2013. …

Isto é, para poder perpetrar o 1.º crime, de Usura, o Estado comete um 2.º crime, mais grave, de Extorsão, conforme o art.º 223 do, já referido, Código Penal*.

Quem, com intenção de conseguir para si ou para terceiro enriquecimento ilegítimo, constranger outra pessoa, por meio de violência ou de ameaça com mal importante, a uma disposição patrimonial que acarrete, para ela ou para outrem, prejuízo é punido com pena de prisão até 5 anos.

O facto de o poder legislativo ter incluído como procedimento obrigatório, numa lei de carácter administrativo, um procedimento anteriormente apontado como criminoso na lei criminal, não retira a esse procedimento a qualidade de crime. Tal como o facto de alguém acusar outrém de devedor, sem apresentar quaisquer provas dessa acusação, não poderá transformar aquele que é acusado em culpado ou presumível culpado. (Um juiz, por exemplo, pode mandar prender alguém imediatamente sem apresentar qualquer justificação às autoridades policiais, mas isso não o isenta de apresentar posteriormente acusações fundamentadas para essa ordem de prisão sob pena de vir a ser sujeito a pesada punição.)

Actualmente, … o sistema informático de penhoras automáticas permite disparar um pedido sobre “todos os processos cujo valor seja superior a 150 euros e cujo devedor tenha bens registados”…

Mesmo Orwell não conseguiu levar a sua imaginação tão longe.

O interesse público e o interesse da Administração Pública passaram a ser antagónicos há muito tempo. O Estado, enquanto pessoa jurídica, vem-se tornando progressivamente um instrumento de extorsão ao serviço de interesses e lucros privados**.

… o grupo Mello e a Mota-Engil que conseguiram, … pôr as Finanças a fazer o que qualquer empresa privada sonharia: ter o poder de impor multas de 500 e 1000% à mais pequena falha ou a penhorar o credor logo de seguida.
… embora seja a Administração o executor da cobrança, as operadoras intervêm preliminarmente”. … “tais operadores são entidades privadas, sem quaisquer fins públicos e utilidade pública, usando meios confinados à Administração Estadual. …

*Redacção de 1995, ambos os artigos ficaram inalterados na 23.ª alteração ao Código Penal, a Lei 59/2007 de 4 de Setembro.

**A Autoridade Tributária (antiga Administração Fiscal) tornou-se já de há uns anos a esta parte o instrumento de cobrança dos credores do Estado, os bancos. Se você pensa que ainda paga impostos ao Estado, está completamente equivocado.

Traduções impedidas de livros proibidos. / Precluded translations of banned books.

Poucas pessoas saberão que livros como Alice no País das Maravilhas (Lewis Carroll), O Diário de Anne Frank, As vinhas da Ira (John Steibeck) ou Bichos (Colectânea de contos, Miguel Torga) estiveram proibidos num qualquer país durante algum (mais ou menos) tempo.
Para comemorar a Semana dos Livros Proibidos* publico aqui o pequeno poema To the Garden the World, do livro Leaves of Grass de Walt Whitman (um livro que também esteve proibido) e a minha tradução dele para um trabalho que foi cancelado (mais um) por falta de verba.

Few people will know that books like Alice’s Adventures in Wonderland (Lewis Carroll), The Diary of Anne Frank, The Grapes of Wrath (John Steinbeck) or Farrusco the blackbird: and other stories from the Portuguese (Miguel Torga) were once banned in some country for some (more or less) time.
To commemorate the Banned Books Week I publish here the small poem To the Garden the World from the book Leaves of Grass by Walt Whitman (a book that was once also banned), and my translation of it to Portuguese as part of a commission that has been canceled (one more) because of withdrawal on funding.

To the Garden the World

To the garden the world anew ascending,
Potent mates, daughters, sons, preluding,
The love, the life of their bodies, meaning and being,
Curious here behold my resurrection after slumber,
The revolving cycles in their wide sweep having brought me again,
Amorous, mature, all beautiful to me, all wondrous,
My limbs and the quivering fire that ever plays through them, for
reasons, most wondrous,
Existing I peer and penetrate still,
Content with the present, content with the past,
By my side or back of me Eve following,
Or in front, and I following her just the same.

Ao Jardim o Mundo

Ao jardim o mundo novamente ascendendo,
Potentes companheiros, filhas, filhos, antecipando,
O amor, a vida dos seus corpos, significado e ser,
Curioso, eis aqui a minha ressurreição após o sono,
Os ciclos girando na sua ampla varredura trazendo-me de novo,
Amoroso, maduro, tudo belo para mim, tudo maravilhoso,
Os meus membros e o fogo trémulo que sempre se mostra neles, as razões, espantosas,
Existindo eu prescruto e penetro ainda,
Satisfeito com o presente, satisfeito com o passado,
Ao meu lado ou atrás de mim segue Eva,
Ou à frente e eu seguindo-a, tanto faz.

*A expressão inglesa banned books tem sido traduzida para português como livros censurados, o que na minha modesta opinião é um erro pois em nenhum dicionário (antigo ou moderno) foi encontrada a palavra “censurar” com o significado (mesmo que informal ou figurado) da palavra ban. Muitos livros (e filmes) foram, e são ainda hoje, censurados e mesmo assim publicados, ainda que estropiados.

But mark this: There will be terrible times in the last days.* / Fica sabendo que, nos últimos dias, surgirão tempos difíceis.**

Muitos estão em grande tribulação. / Many are in great tribulation.

Ébola, a pior epidemia em quatro décadas
A OMS declarou hoje a epidemia como “emergência de saúde pública de carácter mundial”. O ébola já matou, desde Março, 932 pessoas e infectou mais de 1.700.
SOL, 08/08/2014

Exclusive: Liberia health system collapsing as Ebola spreads
“This is a disease that is beyond the capacity of the three national governments. We need greater international awareness and support and it should be considered a global health crisis that needs a global response,”
Thomson Reuters Foundation – Fri, 8 Aug 2014, Stella Dawson

Operação em Gaza provoca aumento de ataques anti-semitas na Europa
Sinagogas foram atacadas em França e na Alemanha ouviram-se slogans violentos como não se ouviam há décadas. Responsáveis da comunidade judaica expressam preocupação.
Maria João Guimarães, 22/07/2014 (Público)

Antisemitism on rise across Europe ‘in worst times since the Nazis’
Experts say attacks go beyond Israel-Palestinian conflict as hate crimes strike fear into Jewish communities.
Jon Henley – The Guardian, Thursday 7 August 2014

Cristãos perseguidos do Iraque fazem pedido ao mundo. “Rezem por nós”
… só em Mossul, em apenas 48 horas, 500 mil pessoas deixaram a cidade, a maioria cristãos. Fugiram sem nada e não têm possibilidade de regressar ou recuperar as suas casas. … os últimos cristãos que restavam na cidade de Mossul foram assassinados pelos radicais do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL).
01-08-2014, Ângela Roque (Renascença)

Day of prayer for Iraqi Christians
IS fighters… are practicing extreme persecution against Christians, as well as Shia Muslims and other minority faith groups. Iraq’s second largest city, Mosul, was emptied of Christians last month after warnings rang out from Mosques across the city, insisting that Christians must flee, pay a tax, convert to Islam or face death.
Published 05 August 2014, Carey Lodge (Christian Today)Razor II Gaza - Pawel_Kuczynski

Meanwhile, the Western empires are about to start a new Cold War.
(Entretanto, os impérios ocidentais estão prestes a iniciar uma nova Guerra Fria.)

Russian Navy ‘forces US submarine out’ of Arctic boundary waters – report
(Forças da marinha russa ‘obrigam sumarino norte-americano’ a sair das águas do Ártico)
Published time: August 09, 2014 (RT)

Russian nuclear-capable bombers ‘tested’ US air defenses 16 times in last 10 days
(Bombardeiros com capacidade nuclear ‘testam’ as defesas norte-americanas 16 vezes nos últimos 10 dias)
Edited time: August 08, 2014 (RT)

Russia launches Baltic drills alongside NATO Saber Strike war games
(A Rússia inicia exercícios [militares] no Báltico ao lado dos dos “jogos de guerra” Golpe de Sabre da OTAN)
Edited time: June 11, 2014 (RT)

*2 Timothy 3: 1 (Holy Bible NIV)   **2 Timóteo 3:1 (Bíblia Sagrada Capuchinhos)

STOP THE KILLING NOW, ISRAEL / PÁRA A MATANÇA JÁ, ISRAEL.

Five children among seven Palestinians killed in Israeli air strike: ministry
Half Of Them Children, 110 Palestinians Kidnapped In Historic Palestine
Palestine: Children, Teenagers, Civilians Dead. Where’s the West’s Outrage?

“Therefore, everything that you wish Bnei Adam do for you, thus also you do for them. For this is the Torah and the Neviim.”
Mattityahu 7:12 Orthodox Jewish Bible (OJB)
“So in everything, do to others what you would have them do to you, for this sums up the Law and the Prophets.” / “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas.”
Matthew 7:12 New International Version (NIV) / Mateus 7:12 João Ferreira de Almeida Actualizada (AA)

Note/Nota: Apparently this post on facebook got me expelled of the group “The Bible’s Prehistory, Purpose, and Political Future” connected to Emory University./ Pelos vistos este postal no facebook valeu-me a expulsão do grupo “A Pré-História da Bíblia, Propósito e Futuro Político”, ligado à Universidade de Emory (EUA).

Dia de Portugal com a Língua assassinada, de Camões morto e das Comunidades portuguesas abandonadas.

lamento para a língua portuguesa

não és mais do que as outras, mas és nossa,
e crescemos em ti. nem se imagina
que alguma vez uma outra língua possa
pôr-te incolor, ou inodora, insossa,
ser remédio brutal, mera aspirina,
ou tirar-nos de vez de alguma fossa,
ou dar-nos vida nova e repentina.
mas é o teu país que te destroça,
o teu próprio país quer-te esquecer
e a sua condição te contamina
e no seu dia-a-dia te assassina.
mostras por ti o que lhe vais fazer:
vai-se por cá mingando e desistindo,
e desde ti nos deitas a perder
e fazes com que fuja o teu poder
enquanto o mundo vai de nós fugindo:
ruiu a casa que és do nosso ser
e este anda por isso desavindo
connosco, no sentir e no entender,
mas sem que a desavença nos importe
nós já falamos nem sequer fingindo
que só ruínas vamos repetindo.
talvez seja o processo ou o desnorte
que mostra como é realidade
a relação da língua com a morte,
o nó que faz com ela e que entrecorte
a corrente da vida na cidade.
mais valia que fossem de outra sorte
em cada um a força da vontade
e tão filosofais melancolias
nessa escusada busca da verdade,
e que a ti nos prendesse melhor grade.
bem que ao longo do tempo ensurdecias,
nublando-se entre nós os teus cristais,
e entre gentes remotas descobrias
o que não eram notas tropicais
mas coisas tuas que não tinhas mais,
perdidas no enredar das nossas vias
por desvairados, lúgubres sinais,
mísera sorte, estranha condição,
mas cá e lá do que eras tu te esvais,
por ser combate de armas desiguais.
matam-te a casa, a escola, a profissão,
a técnica, a ciência, a propaganda,
o discurso político, a paixão
de estranhas novidades, a ciranda
de violência alvar que não abranda
entre rádios, jornais, televisão.
e toda a gente o diz, mesmo essa que anda
por tal degradação tão mais feliz
que o repete por luxo e não comanda,
com o bafo de hienas dos covis,
mais que uma vela vã nos ventos panda
cheia do podre cheiro a que tresanda.
foste memória, música e matriz
de um áspero combate: apreender
e dominar o mundo e as mais subtis
equações em que é igual a xis
qualquer das dimensões do conhecer,
dizer de amor e morte, e a quem quis
e soube utilizar-te, do viver,
do mais simples viver quotidiano,
de ilusões e silêncios, desengano,
sombras e luz, risadas e prazer
e dor e sofrimento, e de ano a ano,
passarem aves, ceifas, estações,
o trabalho, o sossego, o tempo insano
do sobressalto a vir a todo o pano,
e bonanças também e tais razões
que no mundo costumam suceder
e deslumbram na só variedade
de seu modo, lugar e qualidade,
e coisas certas, inexactidões,
venturas, infortúnios, cativeiros,
e paisagens e luas e monções,
e os caminhos da terra a percorrer,
e arados, atrelagens e veleiros,
pedacinhos de conchas, verde jade,
doces luminescências e luzeiros,
que podias dizer e desdizer
no teu corpo de tempo e liberdade.
agora que és refugo e cicatriz
esperança nenhuma hás-de manter:
o teu próprio domínio foi proscrito,
laje de lousa gasta em que algum giz
se esborratou informe em borrões vis.
de assim acontecer, ficou-te o mito
de haver milhões que te uivam triunfantes
na raiva e na oração, no amor, no grito
de desespero, mas foi noutro atrito
que tu partiste até as próprias jantes
nos estradões da história: estava escrito
que iam desconjuntar-te os teus falantes
na terra em que nasceste, eu acredito
que te fizeram avaria grossa.
não rodarás nas rotas como dantes,
quer murmures, escrevas, fales, cantes,
mas apesar de tudo ainda és nossa,
e crescemos em ti. nem imaginas
que alguma vez uma outra língua possa
pôr-te incolor, ou inodora, insossa,
ser remédio brutal, vãs aspirinas,
ou tirar-nos de vez de alguma fossa,
ou dar-nos vidas novas repentinas.
enredada em vilezas, ódios, troça,
no teu próprio país te contaminas
e é dele essa miséria que te roça.
mas com o que te resta me iluminas.

Vasco Graça Moura, in “Antologia dos Sessenta Anos”

(daqui)

Adeus Clix/Optimus.

PelintraParece que vamos deixar de ter internet e telefone fixos por aqui durante uns tempos. A carta de despedida (ao cliente) é, por si só, um monumento de desconsideração. Escrevem assim:
Assunto: Desligamento dos Serviços Optimus Clix
Caro(a) Cliente,
Conforme anteriormente lhe comunicámos, a partir do próximo dia 15 de Maio de 2014 o serviço Optimus Clix cessará.
A partir desse dia, os clientes ficarão sem serviço de telefone e de internet.

Tal como aconteceu com as auto-estradas e vias rápidas pagas (ex-SCUTs), os operadores, muito inc€ntivados pelo Estado, investiram milhões na “melhor rede de fibra óptica da Europa” e agora querem obrigar os cidadãos a usá-la pagando cara a extravagância. Que o serviço ADSL e as estradas de duas faixas são coisas de pobre…
Cinco anos depois da declaração de insolvência do país, que resultou no pedido de empréstimos ao FMI, e de muitos mais milhões de dívida pública, todos os parasitas do erário público (partidos, empresas públicas ou dependentes de rendas do Estado) ainda não aprenderam que já não são jovens e que nunca foram ricos. Uns pelintras.

Por aqui vamos aproveitar a oportunidade para diminuir as despesas. Fomos tomando entretanto conhecimento de uma série de locais de acesso Wi-Fi gratuito (para nós, claro), alguns mesmo com funcionamento nocturno, e fazemos sérias intenções de tentar tratar de tudo o que necessita de suporte da rede através destas ligações. (Para questões eventualmente mais privadas ou delicadas haverá sempre o recurso a amigos e/ou familiares…)

Quantos mais espoliados serão necessários para se atingir a massa crítica social* em Portugal?

Critical_massO Estado português apenas atribuiu prestações de desemprego a 367 mil desempregados em Março, deixando sem estes apoios cerca de 445 mil desempregados, segundo dados divulgados pela Segurança Social. De acordo com os últimos dados disponibilizados na página da Segurança Social (www.seg-social.pt), em Março existiam 366.914 beneficiários de prestações de desemprego, menos 6.741 pessoas do que em Fevereiro e o equivalente a 45% do último número total de desempregados contabilizados pelo Eurostat.
(Prestações de desemprego deixaram de fora 445 mil desempregados em Março, 28.04.2014, SIC Notícias)

Os casos de sobreendividamento, os efeitos da austeridade e as dívidas para cobrança executiva que acabam por entrar nos tribunais levaram, em 2013, à penhora de mais de 181 mil reformas, um aumento de 24% em relação ao ano anterior, escreve o Diário Económico. (…) A crise e os cortes nas reformas são razões adicionais que acabam nos tribunais e o multiplicar de processos de penhoras que recaem sobre os pensionistas. Os processos são por dívidas relativas a serviços essenciais como água, luz, gás e telecomunicações u processos referentes a dívidas a fornecedores, fianças e arrendamentos.
(Tribunais penhoraram 181 mil reformas em 2013, 2014-04-28, TVI 24)

*Massa crítica (sociodinâmica)

Nota: Para aqueles que não compreendem como os pequenos podem derrubar os grandes fica aqui uma explicação simples de uma reacção em cadeia.

Um Estado extorsionário comandado por estúpidos.

Muitos portugueses pensam ainda que são governados por bandidos. Estão equivocados. Vejamos porquê.
Como toda a gente sabe, um bandido é um indivíduo que obtém um ganho causando aos outros um prejuízo. Ora, isto não constitui explicação suficiente para os casos a seguir descritos:

Uma média de 12 milhões de vendas anuais revelavam-se insuficientes. Os 23 milhões de euros de passivo acumulado pela Throttleman e Red Oak levaram então a que, em Novembro de 2012, ambas avançassem para o “Processo Especial de Revitalização”, um mecanismo criado pelo Estado para ajudar empresas em dificuldades.

Aceite pelo tribunal o “Plano de Recuperação”, vida nova? Errado. As Finanças interpõem um recurso judicial que impediu a recuperação de arrancar. Há um ano. Apesar das Finanças e da Segurança Social terem assegurado o ressarcimento de 100% da dívida em 150 prestações, acrescidas de juros a uma média de 6,25%, as Finanças não aceitaram que os juros antigos e as coimas fossem perdoados em 80%.

A Throttleman andou 12 meses a lutar com as Finanças em recursos judiciais e depois o processo encalhou no Tribunal Constitucional. Entretanto, a gestão tornou-se impossível. Há dias anunciou o pedido de insolvência. Tinha 200 trabalhadores. As Finanças (e todos os outros) vão agora receber zero ou pouco mais. (excerto deste artigo no JN)

Nas Finanças, evidentemente, começaram a levantar problemas porque não tínhamos pago o imposto de selo tendo em conta a data de assinatura do contrato e apresentaram logo o valor da multa a pagar. À pessoa da AT que atendia o nosso colaborador, foi apresentado um e-mail dos advogados referindo que tínhamos de fazer o pagamento do imposto de selo segundo a data de início de contrato, com excertos do DL relevante – que isto para se lidar com a AT tem de se ir preparado e perder tempo e gastar recursos em inutilidades como andarmos a corresponder-nos com os advogados por ninharias. O funcionário da AT não perdeu mais tempo, não leu o que escreveu o nosso advogado, aceitou o depósito de uma das cópias do contrato, carimbou as restantes e ficou tudo tratado.
Em suma: a AT tentou aldrabar-nos exigindo o pagamento de uma multa que não deveria ser exigida, sabendo que não havia razão para a sua exigência. Como percebeu que não resultaria, deixou-nos ir e que não tornássemos a pecar. (excerto deste postal no blogue O Insurgente)

StupidityO que falta para explicar estes casos é a lei fundamental da estupidez humana, segundo o historiador de Economia Carlo Maria Cipolla: Uma pessoa [humana ou jurídica] estúpida é aquela que causa um dano a outra pessoa ou grupo de pessoas, sem que disso resulte alguma vantagem para si, ou podendo até vir a sofrer prejuízo.

Não é difícil compreender de que forma o poder político, económico ou burocrático aumenta o potencial nocivo de uma pessoa estúpida.

As acções do bandido seguem um modelo de racionalidade. Racionalidade perversa, se assim quisermos, mas sempre racionalidade.

Como está implícito na Terceira Lei Fundamental, uma criatura estúpida persegui-lo-á sem razão, sem um plano preciso, nos tempos e nos lugares mais improváveis e impensáveis.

Com um sorriso nos lábios, como se fizesse a coisa mais natural do mundo, [digam lá se ao ler isto não vos vem ainda à ideia esta imagem?] o estúpido surgirá inopinadamente para lhe dar cabo dos seus planos, destruir a sua paz, complicar-lhe a vida e o trabalho, fazer-lhe perder dinheiro, tempo, bom humor, apetite e produtividade – e tudo isto sem malícia, sem remorsos e sem razão. Estupidamente.
(in As Leis Fundamentais da Estupidez Humana, Carlo Cipolla, Padrões Culturais Editora)

Nisto, também, o Pedro se revela, cada vez mais, um continuador e imitador do José.